segunda-feira, 18 de maio de 2009

A web e o mito


Não continuei procurando o que era FFT depois disso. Só anos depois, quando tive acesso à rede é que me dei conta que estava começando a ser possível pesquisar assuntos específicos como esse de maneira rápida e "confiável". Era o que todo mundo pensava. Parecia uma caixa de verdades. Hoje já não é assim. Não dá para confiar nas informações da rede. É preciso que voce saiba como e onde procurar. Quanto mais eu procurava mais confusão gerava. Assim como eu, gente do mundo inteiro parecia ter interesses e dúvidas em comum. Isso levou a que as pessoas criassem suas próprias teorias de como fazer as coisas ou como elas funcionavam. Causou um mal terrível, obviamente.

Logo todos eram técnicos. Cada um tinha uma resposta e todas as respostas eram diferentes. Bonito e caótico.

Infelizmente muitos mitos foram criados e, de um modo geral, o mito persiste até hoje.

Eu não achava respostas claras para as perguntas específicas que tinha. Minhas perguntas tinham a ver com arte e com tecnologia, integradas. Eu queria saber como é que se lidava com o envelhecimento das células auditivas e como é que os músicos de meia idade se adaptavam a isso. Existiam aparelhos? Tratamentos? Truques? Ninguém parecia saber sobre isso. Músicos são tratados como qualquer outra pessoa quando com deficiência auditiva. Isso para mim é bizarro sabendo que o músico depende muito mais de sua audição do que pessoas comuns.

E quanto aos técnicos de meia idade? A resposta que tive é que voce não precisa ouvir, existem aparelhos que fazem voce ver. Que depois de uma certa experiência voce já tem uma imagem mental de como as coisas se comportam. O cérebro vai compensar aquilo que não pode mais ouvir.

Quer saber uma coisa curiosa? Músicos e técnicos de som são muito mais surdos do que a média.

Isso tudo significava para mim uma coisa: músicos e técnicos não sabem o que estão fazendo.

Eu achava que arte e tecnologia eram coisas que andavam juntas mas logo descobri que para a maioria daquelas pessoas da área, a arte era secundária ou inócua.

É claro que eu também não sabia o que estava procurando, só tinha a sensação de que o que eu procurava não existia.

De uma maneira geral, no meu universo hoje, que é a música arte, o som, a sensação sonora, composição, música absoluta, existem estes 2 tipos de pessoas: músicos e técnicos. Ou você é um ou você é outro.

Tenho aqui que esclarecer um ponto que me parece importante. Quando digo músico quero dizer compositor, não o indivíduo que é apenas executante das obras alheias. Um músico que não compôe é estéril, é um mero intérprete, mesmo que o sobrenome dele seja Pavarotti. Não desmereço este grande tenor, ele é o instrumento que permite apreciar aquilo que é pertinente: a arte do compositor.

Técnicos em geral não tem nenhum interesse artístico, apesar de agirem com paixão e verem beleza em coisas como fios e alto-falantes.

Não entrarei em detalhes históricos aqui, de como se desenvolvia a música na época dos grandes compositores (época essa que me parece que é tudo na música desde que ela foi criada até 1920) mas a verdade é que os grandes compositores tinham uma participação ativa no desenvolvimento de instrumentos sonoros diversos. O próprio Piano é exemplo disso. Alguns dos compositores que voce conhece participaram ativamente na construção e aperfeiçoamento TÉCNICO do Piano. Hoje já não é verdadeiro. nenhum pianista de hoje parece saber como funciona aquela merda. Ele se senta num piano de 5000 dólares e toca. O Piano parou de evoluir. Naquela época, da mesma maneira, os técnicos que construiam aqueles instrumentos eram verdadeiros artistas. Eram talvez mais artistas que os próprios compositores.

Claramente a coisa estava dividida entre aqueles que compõe e aqueles que querem gravar. Os músicos que se apaixonam pela arte de viver dentro de um estúdio deixam de se interessar por música e começam a se preocupar mais com os plug-ins e sequencers, microfones e caixas. O inverso não é verdadeiro, técnicos não querem ser músicos, parece que nem lhes passa pela cabeça apesar de conviver e trabalhar com músicos diariamente.

Os artistas não querem saber o que acontece tecnicamente e os técnicos não parecem se importar com nenhum tipo de arte. Como pode ser possível fazer qualquer coisa dentro destes parametros? É insano.

http://www.soundclick.com/DanielEboli
http://www.soundclick.com/TheRingtonesProject
http://www.myspace.com/danieleboli
Ouça Daniel no http://www.ubetoo.com

12 comentários:

  1. Parece que você tem trabalhado com os técnicos errados. É uma pena...

    Boa sorte na sua empreitada!

    Abraços.

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  2. Se voce souber onde estão os técnicos certos eu agradeço a dica.

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  3. Parabéns pela iniciativa de reunir idéias e expor críticas, fazendo as pessoas pensarem em conjunto sobre assuntos importantes para o mundo dos espetáculos.

    Como produtora teatral, tenho contato com profissionais admiráveis, porém de difícil relação interpessoal.

    Por outro lado, já trabalhei com profissionais extremamente acessíveis e prestativos, mas de pouca confiança no que diz respeito a conhecimetno técnico. Daqueles que olham pra uma mesa digital e dizem: "Ok, por onde eu começo?" ou como no CCBB em São Paulo, que para o cara da última fileira conseguir ouvir alguma coisa, o cara da primeira se $@$¨%¨*& com o volume, por causa da disposição das caixas.

    No meu caso, sinto a necessidade de incorporação do que se refere a proposta do teatro: A comunicação através da arte. Para isso gostaria de contar com profissionais capacitados que realmente integrassem a arte à tecnologia.

    É claro que uma produção bem estruturada, que propõe remuneração adequada, tem menos risco de contratar profissionais assim.

    Com mais dinheiro e menos arrogância por parte das consideradas "grandes produtoras" talvez um dia a gente consiga atingir o patamar ideal.

    Enquanto isso, continuamos a lidar com a falta de dinheiro, conhecimento técnico e humildade por todas as partes.

    A propósito, se alguém tiver uma boa indicação, também agradeço.

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  4. Obrigado Pamela,

    Seja bem vinda, sinta-se em casa.

    Espero que consiga achar os profissionais que precisa.

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  5. Daniel,

    Tenho alguns nomes para indicar aí em São Paulo. Podemos até pensar em escolher por maior "afinidade" com música erudita ou jazz ou MPB... Qual é a sua necessidade?
    Não pense que não concordo com grande parte do quê você escreveu. Porém, felizmente, a generalização que seu texto me passou não é verdadeira. A maioria dos técnicos que você procura está empregada e é preciso uma oferta muito tentadora para conseguir o "passe" de algum deles. Talvez por isso você não os encontre "dando sopa" por aí.
    O mercado está carente de bons profissionais, é verdade, mas eles existem. E esses profissionais amam suas caixas de som, cabos, mesas e microfones, mas só porquê esses "aparatos tecnológicos" os ajudam a perceber melhor toda a arte que envolve a música.

    Abraços!

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  6. Pamela,

    Acredite: só de ler o que você escreveu, gostaria de ter você como produtora em alguns eventos que participo! Você não imagina o quanto tenho que brigar com alguns produtores para fazê-los entender que preciso colocar as caixas de som exatamente "naquele lugar" para poder ter uma cobertura sonora homegênea, sem "tirar sangue" do ouvido de quem está perto das caixas e sem ter que devolver o dinheiro do ingresso de quem não ouviu nada. Inclusive, acredito que se realmente as pessoas que se sintam prejudicadas por um som ruim realmente pedissem seu dinheiro de volta, o mercado estaria um pouco melhor... :)))

    Esse dilema de profissionais admiráveis porém pessoas "insupertáveis" X pessoas admiráveis porém profissionais insuportáveis é bem real no nosso mercado.. Ano passado tive que indicar um técnico substituto para um trabalho. Precisava de alguém educado, que soubesse se portar bem, que soubesse falar direito, que não usasse substâncias ilícitas no trabalho... E se soubesse mixar um show musical seria bom também. Poucos têm todos esses predicados. E nenhum estava disponível... Depois de 7 técnicos em menos de um ano conseguimos alguém...

    Indicação? Como disse ao Daniel, tenho alguns nomes que poderia indicar, mas no seu caso, acho que, se você se dispuser, deveria pegar um profissional acessível e prestativo e treiná-lo para atender às suas necessidades. Mesmo correndo o risco de perdê-lo mais tarde para algum outro trabalho e ter que começar tudo de novo...

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  7. Caro Alexandre,

    Primeiro queria dizer que voce é muito bem vindo aqui.

    Voce é técnico? Pelo seu post eu acredito que sim, me corrija se eu estiver errado.

    Concordo com tudo o que voce disse.

    Mas o que me chama a atenção foi o que voce não disse.

    Voce deixou sua posição clara a respeito dos técnicos e eu respeito isso. Mas e os músicos? Voce não mencionou eles em nenhum momento, aliás na única vez que voce mencionou música foi assim: "E se soubesse mixar um show musical seria bom também."

    Sim, eu acho que de um modo geral a coisa é bem fraca no Brasil e sim, os profissionais não são tão profissionais assim, voce mesmo teve problemas para arranjar um. Agora, dizer que não se acham profissionais porque eles ja estão contratados não me parece plausível.

    Já sobre sua sugestão para a Pamela, como é que ela vai treinar alguém se ela não tem conhecimento técnico?

    Um abraço e espero que voce volte.

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  8. Daniel,

    Obrigado por me receber aqui no seu "espaço".

    Sou técnico sim. Faço shows ao vivo, gravações e mixagens.

    Acabei falando mais de técnicos do que de arte ou dos músicos porquê o que mais me chamou atenção no seu texto foi sua insatisfacão com os técnicos. Além disso, acredito que estamos todos nós, músicos e técnicos, em função de uma coisa muito maior, que é a música. Todos nós temos uma parcela de responsabilidade perante a arte. E, confesso, conheço poucos músicos (e poucos técnicos também...) que pensam assim. A maioria se sente maior do que a arte. Talvez tenham sido esse profissionais que você encontrou por aí.
    Minha frase "E se soubesse mixar um show musical seria bom também." não se referia à música e sim à técnica necessária para a realização da mixagem. Isso, a técnica, podemos aprender, é até fácil, mas os outros predicados que citei são mais difíceis de encontrar. Porém, deixei de citar a característica mais importante para qualquer técnico de som que queira trabalhar com música: gostar de música e entender que sua função nada mais é do que empregar toda a técnica que ele conheça para a realização plena da música.
    Na verdade, a primeira vez que falei de música foi: "E esses profissionais amam suas caixas de som, cabos, mesas e microfones, mas só porquê esses "aparatos tecnológicos" os ajudam a perceber melhor toda a arte que envolve a música."
    Mais uma vez, insito: esses profissionais existem! E no Brasil!!! :)))))

    Quanto à minha sugestão para a Pamela, me expressei mal: não quis dizer que ela, pessoalmente, deveria treinar alguém tecnicamente, mas que ela poderia moldar o profissional para que ele atendesse às necessidades dela. Como disse acima, a técnica é a parte mais fácil: existem cursos, livros, sites. Já as outras necessidades....

    Grande abraço.

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  9. Sim Alexandre, a insatisfação não é só com os técnicos é com os músicos tambem.

    Voce diz que existem profissionais no Brasil. Pode citar alguns deles?, eu não conheço nenhum.

    Já agora, peço para que voce deixe aqui um link para que a gente possa ouvir algo do seu trabalho, se não te importares.

    Abraço

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  10. Olá Daniel,

    Às vezes tenho o mesmo problema que você. Mas, para minha sorte, consigo bons resultados trabalhando com músicos e técnicos que estão comprometidos com o resultado final e não em se destacar mais do que os outros.
    Quanto a indicar algum técnco, vai depender do quê você precisa: vai gravar ou fazer shows?

    Não sei onde você pode encontrar algum trabalho que eu tenha participado na web. Porém, nas lojas de discos, você poderia ouvir os dois trabalhos mais recentes da cantora Leila Pinheiro: o CD/DVD "Agarradinhos" (Leila Pinheiro e Roberto Menescal) e o CD "Pra Iluminar" (Leila Pinheiro e Eduardo Gudin). Nos dois trabalhos, pude contribuir para a sonoridade final.
    Se preferir, pode assitir a algum show do cantor Lulu Santos ou, eventualmente, aos shows da própria Leila Pinheiro.

    Abraços!

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  11. No momento eu não preciso de nenhum técnico, já que gravo tudo sozinho (tive que aprender) e não faço mais performance, estou somente na área de composição/gravação. Entretanto, gostaria saber quem é que está bombando no Brasil hoje.

    Quem é que está tirando um bom som hoje?

    Obrigado pelas dicas, vou procurar ouvir sim, fiquei curioso.

    Sobre os CDs da Leila Pinheiro, voce pode dizer qual foi seu papel? Masterização talvez?

    Até mais

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  12. Olá Daniel,

    Eu fiz a mixagem nos dois trabalhos.

    Gosto do som de vários técnicos brasileiros. Como você falou em masterização, temos no Brasil um dos melhores do mundo, na minha opinião, que é o Carlos Freitas do Classic Master. Coube a ele a masterização do CD "Pra Iluminar". Vale a pena ouvir...

    Abraços.

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