quarta-feira, 20 de maio de 2009

Dualidade Musicotécnica



Eu estava numa encruzilhada. Eu era músico e queria ser técnico, mas não queria deixar de ser músico. Queria ser técnico para ser melhor músico. Para minha surpresa notei que o que eu queria não era comum.

Eu não conheço nenhum músico/técnico, e não sei da existência de nenhum. Muitos músicos acham que são técnicos e vice-versa mas o técnico não saberá responder a 3 perguntas sobre arte assim como o músico não saberá responder a 3 perguntas sobre tecnologia.

Para os técnicos, eu era demasiado músico e , para os músicos, eu era demasiado técnico.

Tive, e ainda tenho, muitos problemas por causa disso. Pedi demissão e fui despedido de diversos trabalhos por causa disso. Estava farto de conflitos profissionais porque eu acreditava em outra coisa. Por uma conjunção de fatos que não interessa aqui, comecei, de fato, a mandar currículos para estúdios de gravação fora do país.

Eu já havia estado fora do Brasil alguns anos antes, para gravar um disco com uma banda que participei, Bluebell. Depois do album gravado, fiquei colaborando com um dos estúdios em que gravamos por algum tempo. A banda voltou para o Brasil e eu fiquei lá mais uns 5 meses. Foi uma experiência válida e enriquecedora mas nunca imaginava voltar para Europa.

Enfim, eu já tinha uma boa experiência como músico e como técnico quando comecei o SPAM* para vários estúdios no mundo.

Queria sair do Brasil, na minha cabeça, no auge da minha carreira eu estaria gravando o último album do Roberto Carlos ou do Leandro e Leonardo. NEM FODENDO!! Não queria isso não. Queria uma coisa mais real, tangente, que fosse relevante artisticamente. Eu não queria trabalhar para uma instituição falida, que é aquela das gravadoras de música descartável. Eu não via no Brasil o devido cuidado que alguns trabalhos mereciam. Tanto em albuns como em rádio, TV, teatro. Como sempre eram tratados como cobaias secundárias (os músicos) para o deleite parafernálico dos técnicos. Totalmente separados sempre. Era assim que eu entendia a dualidade musicotécnica no Brasil.

Aqui, se ofendo alguém, é sem intenção. Embora acho que só aqueles que se identificam é que devem estar ofendidos.

Fui embora, caguei para tudo. Foda-se esta merda. Brasileiros do caralho surdos duma porra.

Eu estava furioso com os calotes na música e com o empreguinho de merda que eu tinha. Realmente não tinha nada que me prendesse a São Paulo.

Vendi tudo e entrei no avião. Pior do que o Brasil não podia ser, artisticamente falando.

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