domingo, 31 de maio de 2009

Oração...


Aham... (Daniel ajoelha-se na cama antes de dormir às 4 da manhã)

Querido Deus,

Obrigado pelas composições dadas pelo Senhor, embora elas pareçam muito que fui eu que fiz.

Peço ao Senhor que, no show de amanhã, não seja uma mesa digital.

Amen.

(Daniel deita-se e apaga a luz)
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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Larry Ludwick review


O excelente compositor Larry Ludwick fez uma crítica da música Monadas, de minha autoria, no forum do site www.soundclick.com:

"This is some very mild and yet appealing music. I did feel a desire for some more dynamic range in the music, but musically there is a wonderful development and flow.

Opens with some interesting glide sounds ... the strings are a little weak, but perhaps that was very deliberate and I can't question the descision because it works in a magic way.

Listening a second time without the anticipation of some dominant lead instrument, I find I like it much better. I am a big fan of restraint and I think you show very good restraint in not trying to overwhelm the listener.

All in all very nice and slightly different from the new age 'floating garden' type of music. Using staccato without being harsh. Very nice again.
_________________
Larry Ludwick http://www.soundclick.com/bands/page_music.cfm?bandID=823722 "

As palavras de Larry Ludwick são como um tesouro para mim.

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sábado, 23 de maio de 2009

Caos ordenado


Pior que o Brasil não era mas dizer que era melhor é um grande exagero. Era no máximo diferente. Sem querer, acabei encontrando uma coisa que não estava procurando. Uma coisa que nem me passou pela cabeça existir: a diversidade!

Eu estava tão acostumado ao "brazilian way" que fiquei confuso a princípio. A cada nova sessão de gravação ou a cada novo concerto as coisas mudavam, verdades absolutas foram definitivamente banidas do meu dicionário.

Comecei a perceber que em cada país as coisas se davam de maneira distinta. Cada povo tem sua maneira peculiar de entender e executar as coisas. Assim como em tudo.

É o reflexo da diferença cotidiana que faz os métodos mudarem. Se voce come ovos com bacon de manhã seu som é gordo. Se voce vive na Índia e come curry seu som é limpo. A música é tranquila e natural nos alpes Andinos mas caótica e agressiva ela é em Seoul.

Apesar de toda a diferença uma coisa não mudava: músicos e técnicos. De uma maneira natural eles trabalhavam separado. Objetivos opostos. De um modo geral.

O que faz com que pessoas que têm interesses tão próximos se afastem uma das outras? Afinal, eles estão juntos no mesmo local, trabalhando na mesma hora e com a mesma coisa. Lol.

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Dualidade Musicotécnica



Eu estava numa encruzilhada. Eu era músico e queria ser técnico, mas não queria deixar de ser músico. Queria ser técnico para ser melhor músico. Para minha surpresa notei que o que eu queria não era comum.

Eu não conheço nenhum músico/técnico, e não sei da existência de nenhum. Muitos músicos acham que são técnicos e vice-versa mas o técnico não saberá responder a 3 perguntas sobre arte assim como o músico não saberá responder a 3 perguntas sobre tecnologia.

Para os técnicos, eu era demasiado músico e , para os músicos, eu era demasiado técnico.

Tive, e ainda tenho, muitos problemas por causa disso. Pedi demissão e fui despedido de diversos trabalhos por causa disso. Estava farto de conflitos profissionais porque eu acreditava em outra coisa. Por uma conjunção de fatos que não interessa aqui, comecei, de fato, a mandar currículos para estúdios de gravação fora do país.

Eu já havia estado fora do Brasil alguns anos antes, para gravar um disco com uma banda que participei, Bluebell. Depois do album gravado, fiquei colaborando com um dos estúdios em que gravamos por algum tempo. A banda voltou para o Brasil e eu fiquei lá mais uns 5 meses. Foi uma experiência válida e enriquecedora mas nunca imaginava voltar para Europa.

Enfim, eu já tinha uma boa experiência como músico e como técnico quando comecei o SPAM* para vários estúdios no mundo.

Queria sair do Brasil, na minha cabeça, no auge da minha carreira eu estaria gravando o último album do Roberto Carlos ou do Leandro e Leonardo. NEM FODENDO!! Não queria isso não. Queria uma coisa mais real, tangente, que fosse relevante artisticamente. Eu não queria trabalhar para uma instituição falida, que é aquela das gravadoras de música descartável. Eu não via no Brasil o devido cuidado que alguns trabalhos mereciam. Tanto em albuns como em rádio, TV, teatro. Como sempre eram tratados como cobaias secundárias (os músicos) para o deleite parafernálico dos técnicos. Totalmente separados sempre. Era assim que eu entendia a dualidade musicotécnica no Brasil.

Aqui, se ofendo alguém, é sem intenção. Embora acho que só aqueles que se identificam é que devem estar ofendidos.

Fui embora, caguei para tudo. Foda-se esta merda. Brasileiros do caralho surdos duma porra.

Eu estava furioso com os calotes na música e com o empreguinho de merda que eu tinha. Realmente não tinha nada que me prendesse a São Paulo.

Vendi tudo e entrei no avião. Pior do que o Brasil não podia ser, artisticamente falando.

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segunda-feira, 18 de maio de 2009

A web e o mito


Não continuei procurando o que era FFT depois disso. Só anos depois, quando tive acesso à rede é que me dei conta que estava começando a ser possível pesquisar assuntos específicos como esse de maneira rápida e "confiável". Era o que todo mundo pensava. Parecia uma caixa de verdades. Hoje já não é assim. Não dá para confiar nas informações da rede. É preciso que voce saiba como e onde procurar. Quanto mais eu procurava mais confusão gerava. Assim como eu, gente do mundo inteiro parecia ter interesses e dúvidas em comum. Isso levou a que as pessoas criassem suas próprias teorias de como fazer as coisas ou como elas funcionavam. Causou um mal terrível, obviamente.

Logo todos eram técnicos. Cada um tinha uma resposta e todas as respostas eram diferentes. Bonito e caótico.

Infelizmente muitos mitos foram criados e, de um modo geral, o mito persiste até hoje.

Eu não achava respostas claras para as perguntas específicas que tinha. Minhas perguntas tinham a ver com arte e com tecnologia, integradas. Eu queria saber como é que se lidava com o envelhecimento das células auditivas e como é que os músicos de meia idade se adaptavam a isso. Existiam aparelhos? Tratamentos? Truques? Ninguém parecia saber sobre isso. Músicos são tratados como qualquer outra pessoa quando com deficiência auditiva. Isso para mim é bizarro sabendo que o músico depende muito mais de sua audição do que pessoas comuns.

E quanto aos técnicos de meia idade? A resposta que tive é que voce não precisa ouvir, existem aparelhos que fazem voce ver. Que depois de uma certa experiência voce já tem uma imagem mental de como as coisas se comportam. O cérebro vai compensar aquilo que não pode mais ouvir.

Quer saber uma coisa curiosa? Músicos e técnicos de som são muito mais surdos do que a média.

Isso tudo significava para mim uma coisa: músicos e técnicos não sabem o que estão fazendo.

Eu achava que arte e tecnologia eram coisas que andavam juntas mas logo descobri que para a maioria daquelas pessoas da área, a arte era secundária ou inócua.

É claro que eu também não sabia o que estava procurando, só tinha a sensação de que o que eu procurava não existia.

De uma maneira geral, no meu universo hoje, que é a música arte, o som, a sensação sonora, composição, música absoluta, existem estes 2 tipos de pessoas: músicos e técnicos. Ou você é um ou você é outro.

Tenho aqui que esclarecer um ponto que me parece importante. Quando digo músico quero dizer compositor, não o indivíduo que é apenas executante das obras alheias. Um músico que não compôe é estéril, é um mero intérprete, mesmo que o sobrenome dele seja Pavarotti. Não desmereço este grande tenor, ele é o instrumento que permite apreciar aquilo que é pertinente: a arte do compositor.

Técnicos em geral não tem nenhum interesse artístico, apesar de agirem com paixão e verem beleza em coisas como fios e alto-falantes.

Não entrarei em detalhes históricos aqui, de como se desenvolvia a música na época dos grandes compositores (época essa que me parece que é tudo na música desde que ela foi criada até 1920) mas a verdade é que os grandes compositores tinham uma participação ativa no desenvolvimento de instrumentos sonoros diversos. O próprio Piano é exemplo disso. Alguns dos compositores que voce conhece participaram ativamente na construção e aperfeiçoamento TÉCNICO do Piano. Hoje já não é verdadeiro. nenhum pianista de hoje parece saber como funciona aquela merda. Ele se senta num piano de 5000 dólares e toca. O Piano parou de evoluir. Naquela época, da mesma maneira, os técnicos que construiam aqueles instrumentos eram verdadeiros artistas. Eram talvez mais artistas que os próprios compositores.

Claramente a coisa estava dividida entre aqueles que compõe e aqueles que querem gravar. Os músicos que se apaixonam pela arte de viver dentro de um estúdio deixam de se interessar por música e começam a se preocupar mais com os plug-ins e sequencers, microfones e caixas. O inverso não é verdadeiro, técnicos não querem ser músicos, parece que nem lhes passa pela cabeça apesar de conviver e trabalhar com músicos diariamente.

Os artistas não querem saber o que acontece tecnicamente e os técnicos não parecem se importar com nenhum tipo de arte. Como pode ser possível fazer qualquer coisa dentro destes parametros? É insano.

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sábado, 16 de maio de 2009

FFT


A primeira vez que ouvi falar em FFT foi num estúdio de gravação dentro de uma rádio AM onde trabalhei como operador de rádio. Eu não pertencia ao núcleo de gravação. Eu trabalhava em outra sala mas sempre ia até o estúdio de gravação para ver como eram feitos os programas gravados e dar boas risadas. Técnicos são bem engraçados. Foi quando um dos técnicos de som afirmou algo que caiu a todos como uma bomba: “Meus amigos, minha vida se resume a antes de descobrir o FFT e depois que descobri o FFT”. Todos concordaram. Pasmado fiquei eu. Sem perder a linha assenti com a cabeça concordando.

Eu ia ter que descobrir o que era aquela merda.

Isso aconteceu no começo dos anos 90. Não havia internet como hoje, não havia Google. Quando alguem precisava saber alguma coisa tinha que ir até a biblioteca ou perguntar a alguém que presumidamente entendia mais do assunto do que voce. Por sorte, como já disse, sou filho de um engenheiro químico e na minha casa havia uma quantidade razoável de livros técnicos disponíveis. Não precisei ir à biblioteca. A maioria dos livros era sobre química, é claro. Livros nunca me assustaram, pelo contrário, desde sempre estive no meio deles e acho-os muito naturais. Não demorou para vir à tona a idéia de procurar FFT naqueles livros. Logo achei, em um livro sobre cálculo diferencial, o tal FFT, era uma questão de honra. E eu nem sabia para que servia o cálculo diferencial.

O balde de água fria não tardou depois de achar FFT naquele índice em ordem alfabética. O livro era em inglês. Por sorte eu tinha uma boa noção de inglês mas não tinha muito vocabulário. Também não tinha muito saco para ler com um dicionário ao lado, hoje tenho. Imagina se eu ia ler um pedaço de um livro, em inglês, sobre matemática avançada, com um dicionário aberto. Lógico que não. Eu tinha uns 18, 19 anos. Confiei no meu parco inglês autodidata e abri a página do tal livro, FFT, stands for Fast Fourier Transform. Ok, parecia que era uma maneira mais fácil de se fazer um DFT. ...

É claro que o livro não dizia nada sobre DFT além de ser a abreviação de Discrete Fourier Transform. Foda-se. Não sabia o que era um DFT mas ia ler sobre o FFT.

Resumidamente, FFT é uma coisa complexa pra caralho. Cálculos algorítimos da puta que o pariu. Não entendi quase porra nenhuma mas uma coisa eu peguei: Tinha a ver com ondas, e não eram as de Surf.

Eu tinha sérias dúvidas quanto aquele técnico que proferiu aquelas palavras. Ele não aparentava saber uma coisa tão complexa como cálculo diferencial. Na verdade ele parecia não saber escovar os próprios dentes.

Uma coisa fazia sentido: FFT serve para medir ou calcular alguma porra nas ondas. Ora, todo mundo sabe que o som é feito de ondas sonoras. Portanto aquele técnico usava o FFT para medir alguma porra no som. Eu só precisava saber o que era.

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

O Segredo

Se você ainda não é um artista, provavelmente não sabe da existência destes meros coadjuvantes.

São como aqueles que em cima duma prancha procuram algo denominado “a onda perfeita”.

O Surfista tem nome. Surfista é seu nome.

Não, este documento não é sobre Surf, é sobre Som.
Quando digo Surf várias coisas acontecem comigo: vejo ondas praia areia sal vento cores cheiros gostos. É bem específico. Todos concordam que há que ter tudo isso e algo mais para haver Surf.

Mas e o som? Quando digo som o que vem à sua cabeça? ...

Forma? Cor? Sabor? Cheiro? ... Estou aqui pensando faz uns 10 minutos e não consigo definir SOM. Voce pode dizer que o som é uma coisa que acontece com as moléculas do ar que se chocam e blogblogblog. Verdade.

Mas o foco aqui é a arte. A famosa Gioconda (Mona Lisa de Da Vinci) é sem dúvida uma tela de tecido onde deliberadamente foram colocados produtos químicos afim de se obter texturas e cores que em determinados angulos a luz reflete blogblogblog. É bem específico. E é verdade.

Não é preciso dizer que é impossível dizer o que é que há na Gioconda que a faz ser tão venerada. Particularmente não acho ela bonita, acho até feia, mas os especialistas parecem concordar que é uma obra de inestimável valor para a humanidade e que se fosse destruída seria uma grande grande tristeza, assim como foi a “reforma” da Capela Sistina.

Não , este documento não é sobre quadros, é sobre som.

O que tem então o som a ver com Surf e importantes quadros feios?

Bem, o som é como surfar sem ondas sem praia sem areia sem sal sem tintas sem telas e, no fim das contas, voce vai ter inteiramente grátis (deduzidos os custos de material) um quadro feio. ...

Caralho, então para que é que serve esta bosta? Não tem forma não tem gosto não tem cheiro não tem cor... e ainda assim , em plena crise mundial no ano 2009, grandes empresas de tecnologia investem muitos milhões de dólares em “música digital para conteúdo”. Bem, no fim das contas eles estão é investindo em som, não em quadros nem em surf, estranho.

O som está a nossa volta, muito mais que o surf e os quadros, direta e indiretamente. Precisamos do som, sem som nossa vida seria muito complicada. Como nos comunicaríamos? Nos transportes também a coisa complica. Imagina a cena: voce, o humano sem orelhas num mundo de humanos sem orelhas. Voce está dirigindo seu carro quando vê a sua frente 2 freiras 12 crianças um bombeiro e um gato. Seu carro não tem buzina mas tem faróis potentes. Voce pisa no freio, os pneus guincham violentamente mas voce não ouve porque não tem orelhas, nem as freiras crianças bombeiros as têm. Fortuitamente a potência dos faróis é suficiente para atrair a atenção dos transeuntes... É tarde demais, não há tempo suficiente para parar o carro nem para que os “sem orelha” se atirem numa manobra de sobrevivência. O impacto é fatal... e surdo. Só o gato, que tem orelhas, sobrevive. O animalzinho ouviu os pneus a guinchar. Mais tarde, no velório múltiplo, os choros não foram ouvidos, as preces também não, da salva de tiros para o bombeiro só se sentiu o odor da pólvora queimada e algumas fagulhas observadas com desdém. Voce teria na sua cozinha um microondas mas teria que ter também luzes espalhadas pela casa se quisesse saber quando a comida está pronta. Sem plimplim, não não. Se a luz queimar, top top. Todos os filmes seriam legendados, não teríamos música.

O som está mais presente do que se pode imaginar. Não percebemos isso porque não somos surdos. Paradoxo.

O sufista tem nome, o pintor tem nome mas e aquele que “trabalha” o som? Bem, “trabalhar” é um termo inacurado mas não existe nenhum verbo que expresse o ato de criar manipular modificar engrandecer enobrecer entender prever e reconhecer o som.

Existe o músico. Ele faz tudo isso com o som: cria manipula enobrece prevê reconhece etc. Mas ele “trabalha” o som? Às vezes sim mas é bastante raro e sempre por acidente. O som, para um músico, é o resultado. Ele não sabe muito bem como é que o som sai dali, nem o porque. Mesmo assim ele tem a habilidade de juntar notas ritmo e timbre para formar uma bela peça musical.

Embora o músico “trabalhe” o som, ele o faz de maneira inconsciente. Para um bom músico qualquer som pode virar música, mas é mais comum o músico usar sons predeterminados para compor uma canção do que usar a música para “compor” ou criar novos sons. Por exemplo: uma peça de Bach para órgão, tocatta e fuga em Ré menor, requer um grande aparato: o órgão. Para quem não sabe, órgãos de igreja podem ser gigantescos, alguns do tamanho de prédios e são bastante complexos. Que eu saiba, Bach nunca compôs para guitarra acústica mas, se eu pegasse esta mesma peça e, respeitando os limites do instrumento e da obra, poderia fazer com que fosse executável em uma guitarra acústica. Mesmo Bach poderia ter feito isso. Ainda assim a obra teria igual impacto. Seria a mesma música. Se voce conhece esta peça sabe que a reconheceria não importa qual fosse seu "som". Não se perderia com as limitações do instrumento e, se fosse feito pelo próprio Bach, provavelmente seria genial.

Concluo então que “músico” não é o termo adequado para aquele que “trabalha” o som. O som é vital para o músico mas não é seu objetivo. Bethoven compôs música sem nunca poder ouví-la. A música é uma coisa mental. Na verdade uma pessoa surda pode entender música e mais, pode até “escutar” uma música enquanto lê uma partitura, se aprender como fazê-lo. Escutar não seria bem a palavra, seria mais “ver” a música de uma maneira mental. Sem dúvida este surdo iria reconhecer a beleza das obras musicais apenas olhando para suas partituras. Muitos músicos não surdos são capazes de fazê-lo. Não acho complicado, acho bem plausível e não entendo como a comunidade dos surdos ainda não reclamou seu direito à musica. Seria como ensinar o som para quem não pode ouvir. Pena. Gostaria de comprar os Concertos de Brandenburg em braile. E depois aprender Braile. Cegos surdos e mudos, mas com música.

Depois existem os sound designers ou audio designers ou sonoplastas ou técnicos de som ou sound mixers ou produtores musicais e alguns outros tantos nomes que no fim significam a mesma coisa. É gente que “trabalha” o som . É seu objetivo. São aqueles que colocam os sons das explosões nos filmes, os tiros, o barulho do Titanic afundando e seu casco ganindo guturalmente, seu motor. Eles também trabalham para que voce espectador consiga entender tudo o que os atores dizem. A voz é uma coisa complexa. Gravar uma diálogo num set de filmagens é trabalho árduo. Os atores nem sempre falam da mesma maneira e depois de 3 ou 4 takes voce tem sons de voz inteiramente diferentes para cada take. Quando o diretor vai montar o filme, ele escolhe parte do diálogo do take 1 e o resto do take 4 que foi o take considerado “bom”. O equipamento é o mesmo em todos os takes assim como todo o aparato parafernálico. Surpresa: o som do take 1 é diferente do take 4 e o som da sala muda com a mudança de takes (se voce colocar um microfone numa sala vazia e gravar voce verá que cada sala tem a sua “ambiência”, seu som). Começa a guerra. Nem todos os profissionais do cinema entendem que não é possível preservar o som de uma voz para que ela se comporte de determinada maneira. Fato: sound designers não tem como manipular o som in loco, mas eles podem substituí-los depois. Voce não pode imaginar a quantidade de cenas onde o som é totalmente reconstruído por sound designers, desde as falas dubladas dentro de estúdios pelos próprios atores ao barulho dos passos, as roupas roçando enquanto o ator anda e se mexe, os barulhos ambientais mar vento pássaros carros aviões trens etc...

A verdade é que a comunidade dos sound designers é predominantemente composta por técnicos. Lembro-me de quando eu comecei a me interessar por esse assunto (que eu não sabia bem o que era ou como chamá-lo) e fiquei impressionado com os profissionais da área de gravação, aqueles que estavam ali para registrar em fita magnética (na época) a obra daqueles músicos que, na época, eram extremamente competentes. Um daqueles músicos era eu, que pertencia à ala dos desesperados, reservada aos músicos incompetentes (na época).

Estes profissionais da gravação eram extremamente... profissionais. Sabiam tudo a respeito do grande segredo que acontece do lado de lá do aquário*, sobre assuntos míticos como: microfones equalizadores monitores de referência e cabos de ouro para não dizer aqui coisas como: transientes, Fletcher-Munson, bus compression, FFT e side-chain. Isso me impressionava grandemente. Sendo filho de um cientista sabia que aquilo devia ser realmente algo importante. A conversa entre os técnicos era hermética. Eu entendia muito pouco e achava fascinante. Eu perguntava sobre tudo, era um puta dum chato e nem sempre os técnicos tinham saco para ensinar noobs* como eu. Apesar do discurso técnico, das declarações feitas quase de maneira sacra sobre como tirar o melhor som disso ou daquilo, estes técnicos não sabiam nada sobre música. Nada sobre música nem nenhum outro tipo de arte. Também não gostavam de ler e só sabiam a matemática que aprenderam na escola.

Para mim isso era muito estranho. Como é que as pessoas que vão gravar nossas músicas não sabem nada de música? Paradoxo. Como alguém que trabalha com artistas não tem interesse algum por arte de nenhum tipo?

Seus interesses eram mics cabos caixas consoles. A arte não tinha a mínima importância. Aliás, a impressão que dava era que nós músicos éramos um mal necessário, um tipo de sub-espécie usada como cobaia em seus laboratórios sonoros. E ainda cobravam por isso. Hoje acredito que não passava de um bando de filhos da puta.

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O primeiro post...


Aqui estamos então...a iluminação é boa, sala espaçosa.

Esse é meu primeiro blog.

Todos serão benvindos.

Espero que o assunto seja do vosso interesse.

Falaremos sobre som...  som e arte... som, arte e tecnologia... som arte, tecnologia e filosofia...

E mais.

Até breve

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